Campanha Ana: Cínthia nos conte um pouco sobre
você: Relações profissionais, de militância, enfim o que achar que é
interessante compartilhar.

Campanha Ana: O projeto Crescer sem Violência encabeçado pelo Canal
Futura vem contribuído com a discussão e criando ferramentas metodológica para
enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes. E sua nova
aposta é a série de vídeos que vai discutir o corpo. Quais as potencias e
desafios dessa nova fase do projeto?

Campanha Ana: Para você, o corpo é mesmo uma
potência? Porque?
Cínthia
Sarinho: Compreendemos
o corpo como potência, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de
crianças e adolescentes. É através do corpo que expressamos nossos sentimentos
desde a primeira infância, os medos, as dores, as sensações de prazer e alegria, mas é esse mesmo corpo que
também é extremamente vulnerável. Em se tratando das questões relacionadas às
violências sexuais, sabemos que essas deixam marcas profundas, psicológicas e
físicas. E é considerando essa potência que se faz necessário compreender
também a necessidade de cuidado e proteção com os corpos das crianças e
adolescentes.
Campanha Ana: Como vocês da equipe do Canal Futura identificaram que era
necessário uma serie que desmitificasse os tabus em torno do corpo e seu
desenvolvimento? De onde veio essa demanda?
Cínthia
Sarinho: Essa demanda veio da própria Rede de Proteção
e organizações de referência que atuam na temática. Foi a partir das
experiências anteriores de implementação das séries “Que Exploração é essa?” e
“Que Abuso é esse?” que ficou evidenciado que para atuarmos na prevenção e no
enfrentamento às violências sexuais, era necessário trabalhar as questões
ligadas ao corpo e sexualidade. Para que uma criança e adolescente possam se
proteger de situações de violência, sobre tudo o abuso sexual, é preciso antes
de tudo, conhecer o seu próprio corpo, e saber identificar um carinho, diferenciar um toque de afeto do
toque abusivo, e isso só é possível com a educação sexual para a autodefesa e
autoproteção.
O Futura acredita na construção coletiva do
conhecimento e nesse sentido, se constrói no diálogo e parceria com diferentes
grupos e organizações sociais. Na produção de conteúdos audiovisuais e projetos
desenvolvidos não é diferente, nesse sentido estabelece diferentes estratégias
para a produção colaborativa dos conteúdos produzidos. No caso das séries
audiovisuais (“Que Exploração é essa?”, “Que Abuso é esse?” e “Que Corpo é
esse?”) que integram o Projeto Crescer sem Violência, trilhamos o mesmo caminho,
realizamos fóruns temáticos com a participação de organizações e profissionais
de referência na temática para uma escuta qualificada das questões relacionadas
às violências sexuais e proteção à infância. A série está em fase final de
produção e logo estará
disponível como mais uma ferramenta para a promoção de
direitos e proteção de crianças e adolescentes.
Campanha Ana: As crianças e adolescentes que
conhecem os aspectos físicos do corpo e seu desenvolvimento são menos
vulneráveis serem vítimas da violência sexual?
Cínthia
Sarinho: As
crianças e adolescentes que conhecem o seu corpo e que tem em casa ou na
família um ambiente protetor, que conversam com
os pais e responsáveis sobre autoproteção, corpo e sentimentos, que sabem
diferenciar um carinho de toques abusivos, crescem sem dúvida, mais seguras e
menos vulneráveis à violência sexual. E se por ventura se depararem com alguma
situação ameaçadora, saberão se autoproteger e pedir ajuda à alguém de sua
confiança. O diálogo é o melhor caminho para que crianças e adolescentes cresçam
seguros e protegidos das violências sexuais, garantindo dessa forma o seu
desenvolvimento pleno e saudável.
Campanha Ana: Por que essa Educação corporal é tão negligenciada nas
organizações de ensino?
Cínthia
Sarinho: Acreditamos que, além dessa não ser uma
prioridade nas políticas públicas de educação, o que ocorre é uma dificuldade
de abordagem do tema. A falta de
formação em educação sexual certamente contribui para que esse seja um tema não
abordado frequentemente na escola. Questões relacionadas à
sexualidade ainda são um tabu para muitas pessoas, pois
culturalmente há uma resistência e muitas vezes insegurança em tratar o tema,
pensando que não é assunto para criança e adolescente. É necessário
compreender que esse é um tema presente na vida de todas as pessoas desde o
nascimento, e que precisa ser tratado com naturalidade, sem tabus e
preconceitos. Nesse sentido, família e escola têm um papel
fundamental na construção de ambientes seguros e que promovam a autoproteção de
crianças e adolescentes.
Campanha Ana: Qual a contribuição as organizações sociais que atuam com
crianças e adolescentes podem realizar nessa perspectiva do conhecimento do
corpo, da sexualidade e do desenvolvimentos de meninas e meninos?
Cínthia
Sarinho: Historicamente as organizações sociais que
atuam na prevenção e no enfrentamento às violências sexuais contra crianças e
adolescentes, pautam seu trabalho nos direitos sexuais de crianças e
adolescentes, considerando esse como um direito humano para um desenvolvimento
da sexualidade saudável e protegida, garantindo assim a proteção de crianças e
adolescentes. Além das organizações sociais, diferentes ferramentas a exemplo
do Manual da ABRAPIA (2002), o Plano Nacional de Enfrentamento às
Violência Sexual (Secretaria Especial de Direitos Humanos – SEDHA, 2000) e o
Guia Escolar: Identificação de sinais de abuso e exploração sexual de crianças
e adolescentes (Santos & Ippolito, 2011), citam a importância da
Educação Sexual como “a melhor forma de prevenção” e importante estratégia a
ser desenvolvida na escola e outros espaços educativos. Nesse sentido vale
ressaltar a importante contribuição que essas organizações vêm dando na
produção de conteúdos, publicações, diferentes materiais pedagógicos e ações
educativas voltadas para que crianças e adolescentes conheçam o seu corpo e os
limites, para que possam se proteger e defender de situações abusivas e de
violência.
Campanha Ana: Há alguma outra questão
que gostaria de reforçar?
Cínthia
Sarinho: Importante reforçar que essa é uma luta de
todos nós, que a família e a escola têm um papel fundamental na promoção de
direitos de crianças e adolescentes, e segundo o Art.227 da Constituição
Federal de 1988 - “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”. Por fim, lembrar que, no
Enfrentamento às Violências Sexuais, o melhor caminho é a informação, a
prevenção e a promoção da Educação Sexual para que crianças e adolescentes
sigam protegidas.
Veja O boletim na Integra:
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