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Grupo de Mães, Ariadne é a primeira da direita para esquerda |
Campanha
ANA: Qual foi/ é sua relação com as Medidas socioeducativas, e como você
avalia o sistema?
Ariadne
Oliveira: Desde 2013, quando meu filho de 13 anos foi apreendido. Primeiro ele passou 20 dias, saiu de lá e
rescindiu, passou 45 dias dentro do centro de internação, novamente é posto em
liberdade e rescindi, foi quando então o juiz sentencia ele a para cumpri de 6
meses a três anos o regime de Privação de liberdade. Desde as primeiras vezes,
ele já sofria agressões dentro dos centros de internação. Como eu não entendia
nada, eu via ele machucado e vinha embora e começa a chorar. Foi só então da última apreensão dele que eu
conheci o trabalho do CEDECA – CENTRO DE DEFESA DAS CRIANÇAS E DOS
ADOLESCENTES. Nessa época o CEDECA estava recebendo muitas denúncias de
agressões contra os adolescentes. Então foi ai que eu comecei a participar das
reuniões e estou até hoje. E o que eu
comecei a perceber que para o meu filho foi só momentos de perdas. Cada negação
de direito que ele tinha dentro do centro ele se transforma numa pessoa pior e
sem perspectiva. E avaliação que eu tenho
desses três anos do sistema socioeducativa é de que é um “deposito” de
adolescentes. Pois o que realmente o
socioeducativo deveria oferecer aos adolescentes não estava sendo promovido aos
adolescentes, ou seja, o social, educativo, o Plano de atendimento
individual(PIA)e sim deles saírem do sistema com outros pensamentos de vida. E
que na verdade estavam sendo submetidos a torturas, pelos agente
socioeducativos e pela polícia. Meu
filho cada vez que saia do sistema ele saia com menos perspectiva de vida, por
isso eu avalio como um deposito. O que
dar a entender, é que eles estão preparando os adolescentes para cair no
sistema prisional. A minha experiência
foi muito ruim, eu tive que abrir dez boletins de ocorrência em função das
agressões físicas sofridas pelo meu filho lá dentro e as ameaças. Para mídia é
mostrado uma coisa, mas quem está dentro do centro socioeducativo é outro. Em 2016 houve muitas rebeliões nos centro de
internações, pois adolescentes ficam sem agua, sem comida e em condições
precárias, e isso era motivos para que eles se rebelassem. O meu filho sofreu ameaça, e na primeira
oportunidade que teve ele fugiu, fiquei desesperada, sem notícias dele durante
oito dias. Ele foi assinado. Eu culpo o
estado pela morte do meu filho, pois ele estava nos cuidados do estado. Ou seja toda uma trajetória de direitos
negados.
Campanha
ANA: O País tem mais de 26 mil
adolescentes em unidades de restrição e privação de liberdade. Segundo
levantamento divulgado no início deste ano pelo Ministério dos Direitos Humano.
O que acha dessa ideia imposta na população de que adolescentes não são
responsabilizados?

Campanha
ANA: 61,03% dos adolescentes e jovens em restrição e privação de
liberdade, foram considerados negros, segundo o que mostra o levantamento, e
que a maior parte - 96% do total - era do sexo masculino, sendo que 57% tinham
entre16 e 17 anos. Para você, qual seria a motivação para que os
adolescentes negros e pobres, sejam a maioria a cometerem ato infracional?
Ariadne
Oliveira: Esse índice de adolescentes negros e pobres, tem a ver com a
realidade de que adolescentes branco e de classe média nunca chegam na porta de
uma delegacia. Se esse adolescentes
Brancos e de classe médias são aprendidos, rapidamente eles terão um advogado
para defende-los. Infelizmente a nossa população pobre, mães solteiras que
precisam sair para trabalhar e deixar o s filhos à mercê de qualquer um
A maioria dos adolescentes negro. Então eu
penso sobre isso é que alguns tem oportunidades e outros não tem.
Campanha
ANA: Desse 26 mil adolescentes
em situação de restrição e privação de liberdade, 61,03% deles são negros e no total 96% são do sexo masculino e
57% tinham entre 16 e 17 anos. Segundo esses mesmos levantamento. Para
você, qual seria a motivação para que os adolescentes negros e pobres, sejam a
maioria a cometerem ato infracional?
Ariadne
Oliveira: Os adolescentes eles se iludem muito em relação ao ter. Ter um
roupa, de poder
No meu caso do meu filho, eu sempre fui pobre. Sempre tive que trabalhar
para sustentar minha família, e eu não podia dar ele uma vida que ele merecia. E quando ele chegou na adolescência ele
começou a se iludir com esse vontade de ter o que não tínhamos condições de
ter. E é ai que são cooptados por caminhos “mais fáceis”. Muitas vezes pela
falta de critica a esse sistema que valoriza as pessoas pelo que elas tem e não
pelo que elas são. E na maioria dos casos,
os adolescentes negro e pobres as pessoas que precisam ter para ser.
sair, de ter dinheiro...
Campanha
ANA: Em relação a tudo esse
processo que você viveu junto com seu filho, qual seria o momento mais difícil
que você teve que passar em meio a tudo isso?
Ariadne
Oliveira: Como eu disse, eu sou
costureira. Essas passagens do meu filho
nos centros socioeducativo mexeu muito comigo sabe? tive que sair onde eu
trabalhava. Tive que restabelecer de uma
outra maneira para pode acompanha mais a vida do meu filho. Meu sonho era ter
ele todo temo ali comigo, que ele pudesse mudar. Meu maior sonho era que eu tivesse conseguido
resgatar meu filho. Nesse tempo todo de
luta que lutei pela vida do meu filho, eu estava sempre junto com as pessoas do
CEDECA, e que hoje fazem parte da minha família. Eu não tenho mais o meu filho
para tentar lutar e fazer diferente e mudar esse sistema, mas eu apoio as
outras mães e a ajudo elas a realizar o que eu não pude realizar como meu
filho, de torna-lo um cidadão. Até hoje
eu tento me reestrutura da morte do meu filho.

Ariadne
Oliveira: Como eu disse para você, a maioria das mães são mães solteiras.
Ou são abandonadas e criam os filhos só. E os pais estão presentes na família e
acontecem essa situação dos adolescentes serem apreendidos, eles nunca querem
assumir que são os filhos deles. Sempre joga para mãe. “Tome que é teu filho”, eles nunca querem ter
a responsabilidade de que os filhos devem ser cuidados pelos pais e pelas
mães. No caso do meu filho, eu sempre fui mãe
solteira, e quando aconteceu com o meu filho eu fui a procura do pai dele para
me apoiar nessa situação, e um cara que trabalha com projeto sociais, não foi
nem um pouco sensível a situação do filho que ele nunca reconheceu, e nem se
sensibilizou pelo ser humanos que meu filho era. Isso tem a ver com machismo presente na nossa
sociedade, e eles sempre jogam toda essa responsabilidade para mãe.
Campanha
ANA: O que o Estado deveria
oferecer a essas mulheres que de alguma maneira, mudam sua rotina para
reconstruir laços com os adolescentes em
restrição e privação de liberdade?
Ariadne
Oliveira: Olha infelizmente não
podemos contar com estado com nada. E
essa apoio de fato não virá do estado, pois as preocupações não é na
ressocialização dos adolescentes, se vão ficar vem bem, mas a preocupação é em
criar espaços para manter esse sujeitos presos. Ou seja tem um lucro sendo
gerado aí, e que não é para população pobre que esse lucro vai. E se tivesse programas que apoiassem essa
mulheres, acredito que os laços familiares seriam mais facilmente
restabelecidos.
Campanha
ANA: Aproximar as famílias
contribui para que os adolescentes cumpram as medidas socioeducativas e
ressignificar seus atos? Em qual
sentido contribui?
Ariadne
Oliveira: Existis o PIA (Plano Individual de Atendimento) no sistema
socioeducativo. E cada adolescente era para ter aquele acompanhamento, a
família ser chamada, o pai e mãe para saber o que ele gosta, o que ele faz
quais problemas ele tem... E é nesse
plano que deveria estar essas condições, se a família tem condições de apoiar o
adolescente, saber quais os risco aquele adolescente corre. E isso deveria ser
feito desde o momento que o adolescente entra no sistema até o momento do
desligamento, mas isso não ocorre. Então
deviria usar mais desse plano. Pois é muito importante a presença e o apoio da
família. Que nesse tempo da privação de
liberdade a família estivesse sempre presente. Isso mudaria muito a forma de
como eles cumpre as medidas dentro e o seus pensamos aqui
do lado de fora.
Campanha
ANA: Como as instituições podem
contribuir para diminuir o encarceramento de adolescentes e jovens negros?
Ariadne
Oliveira: A melhor contribuição seria dando oportunidade aos jovens. Pois
quando os adolescentes saem do sistema, eles não conseguem emprego, cursos
profissionais.
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Imagem retirado do Site ponte.org - Ilustração: Talles Rodrigues |
Se essas organizações conseguissem dar mais
oportunidade tanto aos adolescentes que passaram pelo sistema como os que não
entrado. Diminuiria muito o índice de encarceramento. E que as organizações deixem de estigmatizar
esses adolescentes que passam ou passaram por medidas de responsabilização.
Esse apoio nessa quebra de preconceitos seria muito importante.
Campanha
ANA: Algo mais que gostaria de
acrescentar?
Ariadne
Oliveira: Meu sonho é que a gente,
esse grupo de mães possa fazer, que Estado olhe mesmo para os adolescentes,
pois acho que é neles que a gente precisa tentar mudar quando estão ali no
Sistema Socioeducativo, para não se torna o caos que fortaleza e o Brasil está.
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