Carlos Alberto
Junior: Bem minha história se confunde com várias outras histórias, nasci
na periferia de São Paulo, Jardim Ângela extremo sul, considerado em 96 o lugar
mais perigoso do mundo pela ONU. Meu Pai é eletricista e minha mãe doméstica,
hoje do lar. E nossa trajetória de luta foi conviver com os aspectos das
vulnerabilidades sociais, dentro de uma perspectiva de acesso a uma educação e
saúde ruim. Passando um tempo entrei
para um projeto social de uma ONG chamada Sociedade
Santos Mártires que oferecia cursos no contra turno escola, e eu fui
interesse de ... Tinha uma bolsa de 80
reais; tinha alimentação lá e o curso era de panificação. Então a gente
almoçava, fazia o curso e tomava café e vinha embora. E durante o curso podia
se alimentar com os produtos que você mesmo fazia, aí foi onde começou toda
minha história maluca de trabalho e atuação, que fui educando sai fui para o
mercado e quando fiz 18 anos a organização me ofereceu para trabalhar como
educador do núcleo de crianças e adolescentes. Foi daí que começou minha
trajetória profissional. Nesse meio do
caminho me despertei como militante nas conferências, comecei em 2009, e
conferência me despertou para um olhar totalmente diferente para enxergar as
políticas para crianças e adolescentes, me fez enxergar que era um sujeito de
direitos e ai foi indo... Com o passar
do tempo coordenei encontros lúdicos e conferências de crianças e adolescentes
em São Paulo, estive na antiga Associação Brasileira de Magistrados e
Promotores no conselho dos jovens enquanto coordenação, Fui Conselheiro de
direitos das crianças e Adolescentes na cidade de São Paulo. Estou atuando na
rede de proteção, estou no fórum estadual de direitos de criança e
adolescentes, no comitê Nacional de Enfrentamento à violência sexual, atuo com
formação e também continuo na Sociedade
Santos Mártires na gestão da organização e na área de comunicação e
mobilização política. Sou formado em Propaganda e Marketing e especialização de
Marketing para o terceiro setor e empreendedorismo social já na ideia do
mestrado. E também vamos tomar posse do Conselho
estadual de Direitos Humanos de SP ampliando um pouco mais a pauta.
Campanha ANA: Você
iniciou nesse processo como adolescente, e hoje como profissional o que você
poderia dizer que vê de outra forma agora, a partir desse lugar que ocupa?
Carlos Alberto
Junior: Sim, iniciei como adolescente participante de conferência e hoje
como adulto trabalhador enxergo que é um caminho muito complicado e também a
luta é muito difícil, vivemos numa sociedade que nos coloca um processo
patriarcal, capitalista e você se manter nessa luta, inclusive para a própria
família né? Eu fiz universidade graças a
programas federais gratuitos como Pro Uni e minha trajetória foi dentro dessa
construção profissional e a família também muitas vezes não entende isso como
um modelo de trabalho. E eu comecei com
adolescente muito novo e a gente meio que causou uma “revoluçãozinha” em São
Paulo a para mudar essa ótica das meninas e dos meninos que participação desse
espaços, e hoje cada vez mais a gente precisa abrir metodologias de trabalhos para atender essa galerinha. No meu
tempo de militância, a gente não tinha acesso ao celular como a gente tem hoje,
a mídias sociais chegaram a pouco tempo, então como a gente consegue também
adequar as metodologias junto a essa molecada, dar oportunidade. E também não
colocar neles uma sobrecarga de responsabilidade e informação que eles não tem
que saber né. Pois eles e elas também que curtir se divertir e também lidar com
essas questões, mas que não seja obrigatório.
Campanha ANA: O ECA chegou agora aos seus 28 anos, como
profissional que atua no SGD, qual maior desafio você enfrenta garantir os
direitos de crianças e Adolescentes?
Carlos Alberto Junior:
A gente não implementou 1% do Estatuto ainda, falta muito. No meu entender
três pontos precisam ser destacados...
Primeiro: Entender que crianças e adolescentes como A ótica do capital eu que sou
do marketing sei que meninas e meninos são maior agentes de influência do
consumo nos lares. Além da violência e
do ECA ser posto pela mídia de uma forma tão triste que só defende adolescente
em conflito com a lei, e não veem que estamos falando de sujeitos em peculiar
situação de desenvolvimento, pois é muito importante cada um no seu role
construindo sua vida, mas também enquanto sujeito de direitos que eles e elas
podem e devem participar da vida pública, política e que tem direito a vida e
vários outros. Acho que a gente precisa ainda no campo da defesa dos
direitos no campo da infância tira um pouco essa vaidade que a gente tem de
atuação, e começar aos poucos dá um atenção melhor para essa participação
infanto juvenil.
sujeito de direitos;
Segundo entender que política de prevenção as violências é a solução e terceiro
é vontade política. Vaga em creche e criar cadeias para os meninos são os campo de maior atuação das propagandas eleitorais, e não se vê vontades em prever formação, Profissionalização, atendimento de qualidade e redução das violações.
Campanha ANA: Você
acha que a participação dos adolescentes ao longo desses anos foi
fortalecida?
Carlos Alberto
Junior: A participação vem avançando cada uma de uma forma e eu vou pegar o
Precisamos pensar também os espaços se eles
estão prontos para aceitar essa voz, que muitas vezes é diferente, prática,
achada, perdia, coletiva e individual e que são vozes que precisamos aprender a
respeitar. A participação cada vez maistem avançado, cada vez mais temos criados novos mecanismos. SP tem um exemplo
de vozes que para mim entra na história do pais que foi as ocupações escolares,
pois esse processo mostrou o quanto meninas e meninos estão prontos, que eles
sabem o que querem discutir e debater dentro da ótica dos direitos
humanos.
exemplo daqui de SP. Desde 2005 a gente faz conferências lúdicas que separa em
dois momentos onde primeiro é só com crianças e adolescentes e depois,
adolescentes e adultos. Então a gente consegue maximizar inciativas como o G27
(grupo representante de adolescentes organizadores das conferencias nacionais)
lá atrás onde se reivindicou esse processo de participação, cobrar o que hoje a
gente chama de CPA – Comissão de Participação de Adolescentes – E precisamos hoje
refletir se o CPA é totalmente Inclusivo...
Campanha ANA: Diante
de todo esse cenário de retrocesso de direitos em que estamos vivendo, o que
podemos fazer para garantir a proteção de c/A e manter nossos avanços?
Carlos Alberto Junior: Precisamos dizer que vivemos um momento de golpe. O golpe ele é dano não só na ótica da
eleição da presidente Dilma que sofreu o impeachment, mas na ótica dos
direitos, mas o golpe aconteceu para favorecer os interesse do capital e
retirar direitos, temos a PEC 55 que congela os gastos nas áreas sociais. O que temos visto é que cada vez mais
crianças e adolescentes não são prioridades, é só segundo plano de uma gestão
de governo, ou o último plano. E como a
gente vai fazer? Precisamos enquanto
sociedade civil nos fortalecer, e isso perpassa pela articulação entre nós do
movimento, por que existe o movimento, tem gente fazendo, tem gente lutando e
sonhando. A gente precisa juntar esse
povo. E isso tá nos micros, não digo nem dos macros, tem que juntar o grêmios
com as associações de bairros, com os fóruns, com as igreja que acham o
território importantíssimo e desenvolver algumas ações que possam de fato não
violar mais direitos. Precisamos articular as bases, e fazer isso é chamar o
povo. Alguém precisa chamar o povo e esquecer as posições partidárias,
religiosas e juntar a galera para trocar ideia e pensar ações de fato que
enfrentam esse congresso, aproveitar o processo eleitoral deste ano, que será
super delicado e tentar renovar. Mudar o processo político participativo e pensar
outros mecanismos. Investir numa democracia participativa coletiva, acredito
que é um caminho. Fortalecer o Conselhos de Direitos da Infância que podem
deliberar sobre a política para infância como espaço que pode fazer esse
enfrentamento, nós precisamos fazer isso.
Campanha ANA: O
Brasil está retornando ao cenário dos anos 80 e 90, seria possível fazer uma
breve avaliação dos movimentos de infância daquela época do cenário atualmente?
Carlos Alberto
Junior: Tenho me preocupado com a
volta da ditadura e não podermos mais falar em direitos. Mas naquela época o movimento não tinha a
política de proteção integral da infância, não se tinha uma constituição
humanizada, e foi uma época em que se conseguiu avançar, e a informação
demorava muito mais, não tinha face, whats app e nada disso. Daí o que precisamos
nos aproximar dessa ferramentas. Antes
uma violação de direitos que a gente demorava meses para saber, hoje chega para
gente em segundos é só postar. A gente
está dialogando agora para uma ação do boletim Campanha Ana e nem estamos nos
falando presencialmente. Então a gente precisa aproveitar desse mecanismo de
informação para podermos avançar nos debates, e também olhar para atrás e vê o
exemplo do gás, da luta e energia, no olhar coletivo como todo e daí precisamos
tirar o chapéu para o movimento de meninas e meninos de rua e que se mobilizou
e se organizou para trazer essas crianças e adolescentes tão invizibilizados no
Brasil para o debate a nível nacional e a gente conquistar o ECA. Precisamos
olhar para esse exemplo de mobilização, pessoal, coletiva e pensando num tom
maior para conseguirmos avançar nesse século.
Campanha ANA: Como
você avalia os cortes de gênero, raça e orientação sexual nas instituições que
trabalham com crianças e adolescentes, isso é levando em conta no cotidiano das atividades
metodologicamente?
Carlos Alberto
Junior: Eu tenho ficado muito
preocupado com as questões gênero, raça, etnias, orientação sexual, comunidades
e povos tradicionais, pois no Brasil precisamos avançar nesse debate.
Precisamos aprofundar com as pessoas sobre o que são essas temáticas,
por que tem sido difícil discutir as questões LGBTI nos movimentos, nos
próprios movimentos de direitos já causa vários incômodos, imagine no movimento
de crianças e adolescentes que tem muitas pessoas com discurso conservador e
fascista que diz que a menina não precisa saber disso né?! Mas a gente precisa
quebrar essa barreira e aprofundar e discutir. Não dá pra não pautar gênero. É
preciso o tempo todo sem parar. É ir nos espaços e pontuar... outra questão é
que precisamos juntar os movimentos mais setoriais. Vejo que quando ainda são
muito afastados quando se fala de crianças e adolescentes, o que precisamos nos
perguntar pé se a pauta da infância tem sida discutida e considera dentro do
movimento negro? Do movimento LGBTI? De mulheres? De habitação? É preciso aprofundar essas pautas por dentro.
Dizendo
pela a nossa atuação aqui, a gente tenta o tempo todo inserir essas
representações e debates, mas tem uma repulsa de uma sociedade machista,
sexista, patriarcal e racista que criminaliza esse debate através da escola sem
partido, da falsa ideologia de gênero.
Campanha ANA: O
sistema socioeducativo tem sido um dos principais violador do ECA. O que você
acha que falta a esta política para ela se transformar de fato em uma política
de proteção e novas oportunidades para os adolescentes resinificar essas
violências causadas pelo sistema que de vítimas passam a serem vistos como
agressores?
Carlos Alberto
Junior: É preciso discutir o sistema socioeducativo de forma profunda... O
meninos tem passado por muitas violações. Bem esse sistema existe quando a
gente fala da proteção básica que está colocado no ECA que é dever da Família,
da sociedade dos governos garantir direitos a essa população. E a gente sabe que falta ao Estado assumir
seu papel de garantido esses direitos e ele não assume e isso gera um monte de
violências. Se fizermos um recorte de
dados do sistema Por isso digo que
tem várias questões que precisamos discutir, como a dos meninos que não chegam
e são vítimas da violência letal. O sistema socioeducativo precisa de uma
atenção especial, e se a gente apostar em políticas de prevenção vamos sim
diminuir o encarceramento de meninos e meninas nesse país. Em São
Paulo a unidades de internação tem sistemas de tortura ainda, uma delas são as
aulas de lutas. Os meninos vão fazer as aulas e apanha dos professores e daí a
justificativa depois para marcas sãos as aulas de luta... Precisamos olhar onde
o SINASE deu certo, onde vem falhando e os municípios precisam fazer essa
discussão. E daí precisamos discutir O sistema socioeducativo como processo socioeducativo
e não como segurança pública o que acaba violando muito mais os direitos de
meninas e meninos.
socioeducativo, vamos ver que tem cor, tem endereço, tem
orientação tem gênero.
Campanha ANA: Por
fim, há alguma questão que gostaria de acrescentar?
Carlos Alberto
Junior: Uma questão que importante de lembrar é sobre o financiamento dos
fundos da Infância e Adolescentes. Os
estado muitas vezes não conseguem movimentar seus fundos e eu vou pegar São
Paulo como exemplo que são bilionários e os recursos são só direcionados para
atendimento, e não é também direcionado para prevenção da violência ou
construção de diagnósticos e dados para as políticas públicas. Precisamos discutir e problematizar com os municípios que não conseguem fazer com que seus
conselhos funcione. Então como que a gente fortalece esses mecanismo da
sociedade civil de participação direta para que eles financiar e mobilizar as
ações de qualquer lugar. Precisamos refletir sobre a execução e investimentos
dos fundos, e de fato os governos entenderem que meninas e meninos são
prioridade absoluta tanto no orçamento quanto da execução a política pública,
porque a garantia de direitos hoje contribui com a diminuição das violências
que o estado produz, por ausência dele próprio. É preciso fazer chegar na base,
nos
ribeirinhos, quilombolas, nas periferias...