segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Entrevista: Constituição Federal e os direitos de Crianças e Adolescentes com Carlos JR Churras

Campanha ANA: Carlos, fala pra gente um pouco sobre sua história e trajetória profissional, relacionando com os 28 anos do ECA e 30 anos da CT de 88.


Carlos Alberto Junior: Bem minha história se confunde com várias outras histórias, nasci na periferia de São Paulo, Jardim Ângela extremo sul, considerado em 96 o lugar mais perigoso do mundo pela ONU. Meu Pai é eletricista e minha mãe doméstica, hoje do lar. E nossa trajetória de luta foi conviver com os aspectos das vulnerabilidades sociais, dentro de uma perspectiva de acesso a uma educação e saúde ruim.  Passando um tempo entrei para um projeto social de uma ONG chamada Sociedade Santos Mártires que oferecia cursos no contra turno escola, e eu fui interesse de ...  Tinha uma bolsa de 80 reais; tinha alimentação lá e o curso era de panificação. Então a gente almoçava, fazia o curso e tomava café e vinha embora. E durante o curso podia se alimentar com os produtos que você mesmo fazia, aí foi onde começou toda minha história maluca de trabalho e atuação, que fui educando sai fui para o mercado e quando fiz 18 anos a organização me ofereceu para trabalhar como educador do núcleo de crianças e adolescentes. Foi daí que começou minha trajetória profissional.  Nesse meio do caminho me despertei como militante nas conferências, comecei em 2009, e conferência me despertou para um olhar totalmente diferente para enxergar as políticas para crianças e adolescentes, me fez enxergar que era um sujeito de direitos e ai foi indo...  Com o passar do tempo coordenei encontros lúdicos e conferências de crianças e adolescentes em São Paulo, estive na antiga Associação Brasileira de Magistrados e Promotores no conselho dos jovens enquanto coordenação, Fui Conselheiro de direitos das crianças e Adolescentes na cidade de São Paulo. Estou atuando na rede de proteção, estou no fórum estadual de direitos de criança e adolescentes, no comitê Nacional de Enfrentamento à violência sexual, atuo com formação e também continuo na Sociedade Santos Mártires na gestão da organização e na área de comunicação e mobilização política. Sou formado em Propaganda e Marketing e especialização de Marketing para o terceiro setor e empreendedorismo social já na ideia do mestrado.   E também vamos tomar posse do Conselho estadual de Direitos Humanos de SP ampliando um pouco mais a pauta.

Campanha ANA: Você iniciou nesse processo como adolescente, e hoje como profissional o que você poderia dizer que vê de outra forma agora, a partir desse lugar que ocupa?

Carlos Alberto Junior: Sim, iniciei como adolescente participante de conferência e hoje como adulto trabalhador enxergo que é um caminho muito complicado e também a luta é muito difícil, vivemos numa sociedade que nos coloca um processo patriarcal, capitalista e você se manter nessa luta, inclusive para a própria família né?  Eu fiz universidade graças a programas federais gratuitos como Pro Uni e minha trajetória foi dentro dessa construção profissional e a família também muitas vezes não entende isso como um modelo de trabalho.  E eu comecei com adolescente muito novo e a gente meio que causou uma “revoluçãozinha” em São Paulo a para mudar essa ótica das meninas e dos meninos que participação desse espaços, e hoje cada vez mais a gente precisa abrir metodologias de trabalhos para atender essa galerinha.  No meu tempo de militância, a gente não tinha acesso ao celular como a gente tem hoje, a mídias sociais chegaram a pouco tempo, então como a gente consegue também adequar as metodologias junto a essa molecada, dar oportunidade. E também não colocar neles uma sobrecarga de responsabilidade e informação que eles não tem que saber né. Pois eles e elas também que curtir se divertir e também lidar com essas questões, mas que não seja obrigatório.  

 
Campanha ANA:  O ECA chegou agora aos seus 28 anos, como profissional que atua no SGD, qual maior desafio você enfrenta garantir os direitos de crianças e Adolescentes?

Carlos Alberto Junior: A gente não implementou 1% do Estatuto ainda, falta muito. No meu entender três pontos precisam ser destacados...  Primeiro: Entender que crianças e adolescentes como  A ótica do capital eu que sou do marketing sei que meninas e meninos são maior agentes de influência do consumo nos lares.  Além da violência e do ECA ser posto pela mídia de uma forma tão triste que só defende adolescente em conflito com a lei, e não veem que estamos falando de sujeitos em peculiar situação de desenvolvimento, pois é muito importante cada um no seu role construindo sua vida, mas também enquanto sujeito de direitos que eles e elas podem e devem participar da vida pública, política e que tem direito a vida e vários outros.  Acho que   a gente precisa ainda no campo da defesa dos direitos no campo da infância tira um pouco essa vaidade que a gente tem de atuação, e começar aos poucos dá um atenção melhor para essa participação infanto juvenil.  
sujeito de direitos; Segundo entender que política de prevenção as violências é a solução e terceiro é
vontade política. Vaga em creche e criar cadeias para os meninos são os campo de maior atuação das propagandas eleitorais, e não se vê vontades em prever formação, Profissionalização, atendimento de qualidade e redução das violações.

Campanha ANA: Você acha que a participação dos adolescentes ao longo desses anos foi fortalecida? 

Carlos Alberto Junior: A participação vem avançando cada uma de uma forma e eu vou pegar o  Precisamos pensar também os espaços se eles estão prontos para aceitar essa voz, que muitas vezes é diferente, prática, achada, perdia, coletiva e individual e que são vozes que precisamos aprender a respeitar.   A participação cada vez maistem avançado, cada vez mais temos criados novos mecanismos. SP tem um exemplo de vozes que para mim entra na história do pais que foi as ocupações escolares, pois esse processo mostrou o quanto meninas e meninos estão prontos, que eles sabem o que querem discutir e debater dentro da ótica dos direitos humanos.  
exemplo daqui de SP. Desde 2005 a gente faz conferências lúdicas que separa em dois momentos onde primeiro é só com crianças e adolescentes e depois, adolescentes e adultos. Então a gente consegue maximizar inciativas como o G27 (grupo representante de adolescentes organizadores das conferencias nacionais) lá atrás onde se reivindicou esse processo de participação, cobrar o que hoje a gente chama de CPA – Comissão de Participação de Adolescentes – E precisamos hoje refletir se o CPA é totalmente Inclusivo...

Campanha ANA: Diante de todo esse cenário de retrocesso de direitos em que estamos vivendo, o que podemos fazer para garantir a proteção de c/A e manter nossos avanços?

Carlos Alberto Junior: Precisamos dizer que vivemos um momento de golpe.   O golpe ele é dano não só na ótica da eleição da presidente Dilma que sofreu o impeachment, mas na ótica dos direitos, mas o golpe aconteceu para favorecer os interesse do capital e retirar direitos, temos a PEC 55 que congela os gastos nas áreas sociais.  O que temos visto é que cada vez mais crianças e adolescentes não são prioridades, é só segundo plano de uma gestão de governo, ou o último plano.   E como a gente vai fazer?     Precisamos enquanto sociedade civil nos fortalecer, e isso perpassa pela articulação entre nós do movimento, por que existe o movimento, tem gente fazendo, tem gente lutando e sonhando.  A gente precisa juntar esse povo. E isso tá nos micros, não digo nem dos macros, tem que juntar o grêmios com as associações de bairros, com os fóruns, com as igreja que acham o território importantíssimo e desenvolver algumas ações que possam de fato não violar mais direitos. Precisamos articular as bases, e fazer isso é chamar o povo. Alguém precisa chamar o povo e esquecer as posições partidárias, religiosas e juntar a galera para trocar ideia e pensar ações de fato que enfrentam esse congresso, aproveitar o processo eleitoral deste ano, que será super delicado e tentar renovar. Mudar o processo político participativo e pensar outros mecanismos. Investir numa democracia participativa coletiva, acredito que é um caminho. Fortalecer o Conselhos de Direitos da Infância que podem deliberar sobre a política para infância como espaço que pode fazer esse enfrentamento, nós precisamos fazer isso.                         
                                                        
Campanha ANA: O Brasil está retornando ao cenário dos anos 80 e 90, seria possível fazer uma breve avaliação dos movimentos de infância daquela época do cenário atualmente?

Carlos Alberto Junior:  Tenho me preocupado com a volta da ditadura e não podermos mais falar em direitos.  Mas naquela época o movimento não tinha a política de proteção integral da infância, não se tinha uma constituição humanizada, e foi uma época em que se conseguiu avançar, e a informação demorava muito mais, não tinha face, whats app e nada disso. Daí o que precisamos nos aproximar dessa ferramentas.  Antes uma violação de direitos que a gente demorava meses para saber, hoje chega para gente em segundos é só postar.  A gente está dialogando agora para uma ação do boletim Campanha Ana e nem estamos nos falando presencialmente. Então a gente precisa aproveitar desse mecanismo de informação para podermos avançar nos debates, e também olhar para atrás e vê o exemplo do gás, da luta e energia, no olhar coletivo como todo e daí precisamos tirar o chapéu para o movimento de meninas e meninos de rua e que se mobilizou e se organizou para trazer essas crianças e adolescentes tão invizibilizados no Brasil para o debate a nível nacional e a gente conquistar o ECA. Precisamos olhar para esse exemplo de mobilização, pessoal, coletiva e pensando num tom maior para conseguirmos avançar nesse século.  

Campanha ANA: Como você avalia os cortes de gênero, raça e orientação sexual nas instituições que trabalham com crianças e adolescentes, isso é levando em conta no cotidiano das atividades metodologicamente?

Carlos Alberto Junior:  Eu tenho ficado muito preocupado com as questões gênero, raça, etnias, orientação sexual, comunidades e povos tradicionais, pois no Brasil precisamos avançar nesse debate.  Precisamos aprofundar com as pessoas sobre o que são essas temáticas, por que tem sido difícil discutir as questões LGBTI nos movimentos, nos próprios movimentos de direitos já causa vários incômodos, imagine no movimento de crianças e adolescentes que tem muitas pessoas com discurso conservador e fascista que diz que a menina não precisa saber disso né?! Mas a gente precisa quebrar essa barreira e aprofundar e discutir. Não dá pra não pautar gênero. É preciso o tempo todo sem parar. É ir nos espaços e pontuar... outra questão é que precisamos juntar os movimentos mais setoriais. Vejo que quando ainda são muito afastados quando se fala de crianças e adolescentes, o que precisamos nos perguntar pé se a pauta da infância tem sida discutida e considera dentro do movimento negro? Do movimento LGBTI? De mulheres? De habitação?  É preciso aprofundar essas pautas por dentro.
Dizendo pela a nossa atuação aqui, a gente tenta o tempo todo inserir essas representações e debates, mas tem uma repulsa de uma sociedade machista, sexista, patriarcal e racista que criminaliza esse debate através da escola sem partido, da falsa ideologia de gênero.

Campanha ANA: O sistema socioeducativo tem sido um dos principais violador do ECA. O que você acha que falta a esta política para ela se transformar de fato em uma política de proteção e novas oportunidades para os adolescentes resinificar essas violências causadas pelo sistema que de vítimas passam a serem vistos como agressores?

Carlos Alberto Junior: É preciso discutir o sistema socioeducativo de forma profunda... O meninos tem passado por muitas violações. Bem esse sistema existe quando a gente fala da proteção básica que está colocado no ECA que é dever da Família, da sociedade dos governos garantir direitos a essa população.  E a gente sabe que falta ao Estado assumir seu papel de garantido esses direitos e ele não assume e isso gera um monte de violências.  Se fizermos um recorte de dados do sistema  Por isso digo que tem várias questões que precisamos discutir, como a dos meninos que não chegam e são vítimas da violência letal. O sistema socioeducativo precisa de uma atenção especial, e se a gente apostar em políticas de prevenção vamos sim diminuir o encarceramento de meninos e meninas nesse país.   Em São Paulo a unidades de internação tem sistemas de tortura ainda, uma delas são as aulas de lutas. Os meninos vão fazer as aulas e apanha dos professores e daí a justificativa depois para marcas sãos as aulas de luta... Precisamos olhar onde o SINASE deu certo, onde vem falhando e os municípios precisam fazer essa discussão. E daí precisamos discutir O sistema socioeducativo como processo socioeducativo e não como segurança pública o que acaba violando muito mais os direitos de meninas e meninos.
socioeducativo, vamos ver que tem cor, tem endereço, tem orientação tem gênero.

Campanha ANA: Por fim, há alguma questão que gostaria de acrescentar?

Carlos Alberto Junior: Uma questão que importante de lembrar é sobre o financiamento dos fundos da Infância e Adolescentes.  Os estado muitas vezes não conseguem movimentar seus fundos e eu vou pegar São Paulo como exemplo que são bilionários e os recursos são só direcionados para atendimento, e não é também direcionado para prevenção da violência ou construção de diagnósticos e dados para as políticas públicas. Precisamos discutir e problematizar com os municípios que não conseguem fazer com que seus conselhos funcione. Então como que a gente fortalece esses mecanismo da sociedade civil de participação direta para que eles financiar e mobilizar as ações de qualquer lugar. Precisamos refletir sobre a execução e investimentos dos fundos, e de fato os governos entenderem que meninas e meninos são prioridade absoluta tanto no orçamento quanto da execução a política pública, porque a garantia de direitos hoje contribui com a diminuição das violências que o estado produz, por ausência dele próprio. É preciso fazer chegar na base, nos   
ribeirinhos, quilombolas, nas periferias...



Veja o boletim na íntegra





quinta-feira, 19 de julho de 2018

Participar para transforma - Entrevista com Mirian Fonseca


Campanha Ana: Mirian, De modo geral, o que é participação infanto juvenil?

Mirian Fonseca: Participação Juvenil para mim é protagonizar os jovens, adolescentes e crianças, é coloca-los no centro do debate, no centro da discussão. E além de estar no centro da discussão, é elas e eles estar envolvidas diretamente. Tem uma onda equivocada que observo muito sobre essa discussão de participação é que muitas pessoas e Instituições querem colocar a participação juvenil penas para poder cumprir uma regra de que precisa ter a participação Juvenil. Mas na verdade precisa ser efetiva, ou seja protagonizar esses jovens de forma efetiva, é você dar possibilidades reais a esses adolescentes e jovens, onde possam se desenvolver, montar, criar e abrir possibilidade de milhões de outras coisas e que esse protagonismo seja de modo verdadeiro. Ou seja protagonismo é dar autonomias a esses jovens no debate.  EU mesmo não consigo transforma nada, se não tiver com outros jovens, quanto mais eu junto a outras crianças e adolescentes estamos empoderados e tendo acesso efetivo a essa participação, mais geramos transformações pelo mundo. 

C. Ana: Existe um ideal de participação juvenil que é produzido pelas organizações e movimento de defesa dos direito de criança e adolescentes, pode falar um pouco sobre esse ideal e como ele impacta na participação dos adolescentes e jovens?

M. F: Essa pergunta é muito interessantes, pois existe sim essa onda de que é importante o protagonismo e a participação delas e deles, quando na verdade a preocupação é só de cumpri a regra de ter essa representação. O problemas é que não se pensa a criança, o adolescentes e jovens e quais sãos os desafios que elas e eles enfrentam para chegarem a participar. Não se pensa que esse jovem tem uma vida para além da militância.  Para mim foi um desafio conciliar militância e estudos. É um grande desafio versos o desejo enorme de querer fazer as coisas, contribuir com a transformação, mas você não tem um transporte, um recurso pra lanche ou comprar um material para desenvolver uma atividade, daí você não tem condições de protagonizar nada, fazer com que sua participação seja efetiva se você não tem esses apoios.  Esse é um grande desafio que adolescentes e jovens enfrentam, e as crianças de forma ainda mais escancarada por que além de sempre ter alguém falando por elas ainda tem a questão da tutela do adulto que é importante, mas que tem hora que diminuem a voz delas.  Esse é um outro desafio das vozes serem ouvidas e consideradas.  Além dos outros apoios, afetivos, psicológicos precisa ser considerados e são para além dos jovens estarem lá participando no movimento.  

C. Ana: No seu modo ver, quais são os principais desafios em relação a participação de adolescentes e jovens?

 M. F.: Os principais desafios para mim são os apoios financeiro para transportes, nem digo para além disso.   A onda da alimentação e do emocional. E a dimensão do emocional é importante pois  
estamos lidando com pessoas que estão em face de desenvolvimento. O apoio na área do conhecimento seja acadêmico, na escola, pois para que adolescentes e jovens estejam no centro do debate ter acesso a diferentes conhecimentos é importante. Acredito que precisamos pensar não só na faixa etária criança, adolescente e jovens, mas sim o ser humano em desenvolvimento e a participação é uma parte importante desse processo de desenvolvimento.

C. Ana: De que maneira as entidades que atendem crianças e adolescentes podem contribuir com a autonomia e pertencimento deles e delas, em relação a intervenção nos espaço de construção e decisão das políticas públicas?

 M. F.: Uma maneira é que as organizações trabalhem para que meninas e meninos estejam lá nesses espaços. Fortalecer a redes já existentes de adolescentes e oportunizar a criação de outras redes. Forma meninas e meninas sobre as possibilidades de atuação nesses espaços. Não são lugares fácil,   
mas possível dessa participação acontecer. É adotar um pensamento que crianças e adolescentes são capazes e podem contribuir de forma efetiva no que está sendo construindo para a proteção delas e deles e garantia dos direitos, por isso ouvir de meninas e menina o que pesam sobre isso é muito importante.

C. Ana: Como as criança e adolescentes pode ser incentivados a contribuir na luta contra a violação dos direitos sexuais?

M. F.: Eu acredito que uma comunicação entre pares é um caminho.  Por exemplo eu consigo falar com pessoas da minha idade, crianças conseguem conversar com outras crianças e etc ... Mas para isso é preciso que esses grupos saibam sobre seu corpo e o que sinaliza essa violação. Podem ser incentivados a partir do aprendizado do que é direitos sexuais, do conhecimento dos limites dos seus corpos daí conseguem a passar a ser agentes de transformação e disseminação desse conhecimento.


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terça-feira, 17 de abril de 2018

Mães Em luta: um conversa sobre a responsabilização de adolescentes e justiça

Nesta edição, conversamos com a Cearense Ariadne Oliveira, que é costureira, Mãe, tem 36 anos e a cinco anos faz parte do grupo de mães do Socioeducativo organizado pelo CEDECA – Centro de Defesa das crianças e dos adolescentes do Ceara.
Grupo de Mães, Ariadne  é a primeira da direita para esquerda
Campanha ANA: Qual foi/ é sua relação com as Medidas socioeducativas, e como você avalia o sistema?

Ariadne Oliveira: Desde 2013, quando meu filho de 13 anos foi apreendido.   Primeiro ele passou 20 dias, saiu de lá e rescindiu, passou 45 dias dentro do centro de internação, novamente é posto em liberdade e rescindi, foi quando então o juiz sentencia ele a para cumpri de 6 meses a três anos o regime de Privação de liberdade. Desde as primeiras vezes, ele já sofria agressões dentro dos centros de internação. Como eu não entendia nada, eu via ele machucado e vinha embora e começa a chorar.  Foi só então da última apreensão dele que eu conheci o trabalho do CEDECA – CENTRO DE DEFESA DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES. Nessa época o CEDECA estava recebendo muitas denúncias de agressões contra os adolescentes. Então foi ai que eu comecei a participar das reuniões e estou até hoje.  E o que eu comecei a perceber que para o meu filho foi só momentos de perdas. Cada negação de direito que ele tinha dentro do centro ele se transforma numa pessoa pior e sem perspectiva.  E avaliação que eu tenho desses três anos do sistema socioeducativa é de que é um “deposito” de adolescentes.  Pois o que realmente o socioeducativo deveria oferecer aos adolescentes não estava sendo promovido aos adolescentes, ou seja, o social, educativo, o Plano de atendimento individual(PIA)e sim deles saírem do sistema com outros pensamentos de vida. E que na verdade estavam sendo submetidos a torturas, pelos agente socioeducativos e pela polícia.  Meu filho cada vez que saia do sistema ele saia com menos perspectiva de vida, por isso eu avalio como um deposito.  O que dar a entender, é que eles estão preparando os adolescentes para cair no sistema prisional.  A minha experiência foi muito ruim, eu tive que abrir dez boletins de ocorrência em função das agressões físicas sofridas pelo meu filho lá dentro e as ameaças. Para mídia é mostrado uma coisa, mas quem está dentro do centro socioeducativo é outro.  Em 2016 houve muitas rebeliões nos centro de internações, pois adolescentes ficam sem agua, sem comida e em condições precárias, e isso era motivos para que eles se rebelassem.  O meu filho sofreu ameaça, e na primeira oportunidade que teve ele fugiu, fiquei desesperada, sem notícias dele durante oito dias. Ele foi assinado.  Eu culpo o estado pela morte do meu filho, pois ele estava nos cuidados do estado.  Ou seja toda uma trajetória de direitos negados.

Campanha ANA:  O País tem mais de 26 mil adolescentes em unidades de restrição e privação de liberdade. Segundo levantamento divulgado no início deste ano pelo Ministério dos Direitos Humano. O que acha dessa ideia imposta na população de que adolescentes não são responsabilizados?

Ariadne Oliveira:  Eu acho que os adolescentes são punidos sim. E eles não são punidos só pela justiça de ser privado de sua liberdade.  É mais do que punido pelas agressões que são submetidos, pelas discriminações da sociedade.   Fico muito indignada quando a mídia fala sobre as medidas de forma errada.  Quem está próximo ao socioeducativo é quem sabe o quanto eles são punidos.  Falam   que os adolescentes tem vida boa no cumprimento da mediada, que cada adolescente custa 1400 reais e que estão cheio de mordomia. Mas ninguém diz que esses recurso não chega, que as condições que  Esses meninos e meninas estão sendo responsabilizados quando lhes tiram o direito de ir e vir, mas isso não significa que os outros direitos não tem que ser acessado.   
meninas e meninos cumpre as medidas, tão longe do que seria o ideal do que está previsto do estatuto. As pessoas tem um ideia errada de responsabilização.

Campanha ANA:  61,03% dos adolescentes e jovens em restrição e privação de liberdade, foram considerados negros, segundo o que mostra o levantamento, e que a maior parte - 96% do total - era do sexo masculino, sendo que 57% tinham entre16 e 17 anos. Para você, qual seria a motivação para que os adolescentes negros e pobres, sejam a maioria a cometerem ato infracional?

Ariadne Oliveira: Esse índice de adolescentes negros e pobres, tem a ver com a realidade de que adolescentes branco e de classe média nunca chegam na porta de uma delegacia.  Se esse adolescentes Brancos e de classe médias são aprendidos, rapidamente eles terão um advogado para defende-los. Infelizmente a nossa população pobre, mães solteiras que precisam sair para trabalhar e deixar o s filhos à mercê de qualquer um
A maioria dos adolescentes negro. Então eu penso sobre isso é que alguns tem oportunidades e outros não tem.  

Campanha ANA:  Desse 26 mil adolescentes em situação de restrição e privação de liberdade, 61,03% deles são negros e no total 96% são do sexo masculino e 57% tinham entre 16 e 17 anos. Segundo esses mesmos levantamento. Para você, qual seria a motivação para que os adolescentes negros e pobres, sejam a maioria a cometerem ato infracional?

Ariadne Oliveira: Os adolescentes eles se iludem muito em relação ao ter. Ter um roupa, de poder   No meu caso do meu filho, eu sempre fui pobre. Sempre tive que trabalhar para sustentar minha família, e eu não podia dar ele uma vida que ele merecia.  E quando ele chegou na adolescência ele começou a se iludir com esse vontade de ter o que não tínhamos condições de ter. E é ai que são cooptados por caminhos “mais fáceis”. Muitas vezes pela falta de critica a esse sistema que valoriza as pessoas pelo que elas tem e não pelo que elas são.  E na maioria dos casos, os adolescentes negro e pobres as pessoas que precisam ter para ser.
sair, de ter dinheiro...

Campanha ANA:  Em relação a tudo esse processo que você viveu junto com seu filho, qual seria o momento mais difícil que você teve que passar em meio a tudo isso?

Ariadne Oliveira:  Como eu disse, eu sou costureira.  Essas passagens do meu filho nos centros socioeducativo mexeu muito comigo sabe? tive que sair onde eu trabalhava.  Tive que restabelecer de uma outra maneira para pode acompanha mais a vida do meu filho. Meu sonho era ter ele todo temo ali comigo, que ele pudesse mudar.  Meu maior sonho era que eu tivesse conseguido resgatar meu filho.  Nesse tempo todo de luta que lutei pela vida do meu filho, eu estava sempre junto com as pessoas do CEDECA, e que hoje fazem parte da minha família. Eu não tenho mais o meu filho para tentar lutar e fazer diferente e mudar esse sistema, mas eu apoio as outras mães e a ajudo elas a realizar o que eu não pude realizar como meu filho, de torna-lo um cidadão.  Até hoje eu tento me reestrutura da morte do meu filho.
 Campanha ANA:  Na maioria dos casos de adolescentes em cumprimento de medidas, são as mulheres que ficam como referência desse adolescentes.  Por que os homens rejeitam ou não querem esse assumir esse papel?  

Ariadne Oliveira: Como eu disse para você, a maioria das mães são mães solteiras. Ou são abandonadas e criam os filhos só. E os pais estão presentes na família e acontecem essa situação dos adolescentes serem apreendidos, eles nunca querem assumir que são os filhos deles. Sempre joga para mãe.  “Tome que é teu filho”, eles nunca querem ter a responsabilidade de que os filhos devem ser cuidados pelos pais e pelas mães.   No caso do meu filho, eu sempre fui mãe solteira, e quando aconteceu com o meu filho eu fui a procura do pai dele para me apoiar nessa situação, e um cara que trabalha com projeto sociais, não foi nem um pouco sensível a situação do filho que ele nunca reconheceu, e nem se sensibilizou pelo ser humanos que meu filho era.  Isso tem a ver com machismo presente na nossa sociedade, e eles sempre jogam toda essa responsabilidade para mãe.

Campanha ANA:  O que o Estado deveria oferecer a essas mulheres que de alguma maneira, mudam sua rotina para reconstruir laços com os adolescentes em restrição e privação de liberdade?

Ariadne Oliveira:  Olha infelizmente não podemos contar com estado com nada.  E essa apoio de fato não virá do estado, pois as preocupações não é na ressocialização dos adolescentes, se vão ficar vem bem, mas a preocupação é em criar espaços para manter esse sujeitos presos. Ou seja tem um lucro sendo gerado aí, e que não é para população pobre que esse lucro vai.  E se tivesse programas que apoiassem essa mulheres, acredito que os laços familiares seriam mais facilmente restabelecidos.

Campanha ANA:  Aproximar as famílias contribui para que os adolescentes cumpram as medidas socioeducativas e ressignificar seus atos?   Em qual sentido contribui? 

Ariadne Oliveira: Existis o PIA (Plano Individual de Atendimento) no sistema socioeducativo. E cada adolescente era para ter aquele acompanhamento, a família ser chamada, o pai e mãe para saber o que ele gosta, o que ele faz quais problemas ele tem...  E é nesse plano que deveria estar essas condições, se a família tem condições de apoiar o adolescente, saber quais os risco aquele adolescente corre. E isso deveria ser feito desde o momento que o adolescente entra no sistema até o momento do desligamento, mas isso não ocorre.  Então deviria usar mais desse plano. Pois é muito importante a presença e o apoio da família.  Que nesse tempo da privação de liberdade a família estivesse sempre presente. Isso mudaria muito a forma de como eles cumpre as medidas dentro e o seus pensamos aqui
do lado de fora.

Campanha ANA:  Como as instituições podem contribuir para diminuir o encarceramento de adolescentes e jovens negros?

Ariadne Oliveira: A melhor contribuição seria dando oportunidade aos jovens. Pois quando os adolescentes saem do sistema, eles não conseguem emprego, cursos profissionais.
Imagem retirado do Site ponte.org - Ilustração: Talles Rodrigues 
Se essas organizações conseguissem dar mais oportunidade tanto aos adolescentes que passaram pelo sistema como os que não entrado. Diminuiria muito o índice de encarceramento.  E que as organizações deixem de estigmatizar esses adolescentes que passam ou passaram por medidas de responsabilização. Esse apoio nessa quebra de preconceitos seria muito importante.

Campanha ANA:  Algo mais que gostaria de acrescentar?

Ariadne Oliveira:  Meu sonho é que a gente, esse grupo de mães possa fazer, que Estado olhe mesmo para os adolescentes, pois acho que é neles que a gente precisa tentar mudar quando estão ali no Sistema Socioeducativo, para não se torna o caos que fortaleza e o Brasil está.  





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quarta-feira, 14 de março de 2018

Envelhecer LGBT, uma realidade possível com desafios constantes.


Campanha ANA: Anyky, poderia compartilhar um pouco de sua história conosco?  Suas conquistas, desafios, enfim o desejar dividir conosco.  

Anyky Lima: Sou Anyky Lima, Travesti, tenho 62 anos, sou carioca, moro em Belo Horizonte a 32 anos. Sou Ativista LGBT, vise presidente do CELLOS-MG (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual) e representante da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) em Minas Gerais.
Minha história de resistência começa no início da minha adolescência, quando fui expulsa de casa aos 12 anos de idade. Morei na zona (bordeis), na cidade de vitória-ES durante 8 anos, depois voltei para o rio de janeiro.  Na rua batalhei até quase os 50 anos de vida, foi então que montei uma casa, uma pensão, cálculo que na minha casa deve ter passado cerca de umas 10 mil meninas. Tiver a retificação do nome social aos 60 anos... Minha é luta cotidiana. Fui ameaçada de morte várias vezes por incentivar as meninas a abrir uma conta no banco, a poupar o dinheiro que ganhavam na batalha, a tirar documentos, a cuidar da saúde, a frequentar escola...  Comecei meu trabalho assim incentivando as meninas a acessar todos esses espaços, e muitas delas hoje, tem seu próprio salão, ganham dinheiro com outras coisas, algumas ainda continuam na prostituição. E por isso eu luto para que nós da comunidade trans sejamos reconhecidas como seres humanos.  Penso que quando as pessoas começarem a reconhecer travestis, transexuais e homens trans como seres humanos esse será um grande avanço. Claro que já tivemos algumas conquistas, costumo dizer que a gente não quer privilegio queremos acessar nossos direitos como qualquer outro grupo.     

Campanha ANA:  Desse 62 anos de vidas o que destacaria como um desafio e o que destacaria como uma grande vitória?


Anyky Lima:    Minha grande vitória nisso tudo foi ter passar por tudo que passei, ter sido expulsa de casa muito nova e não ter me contaminado com HVI, sou de uma época que a cultura da camisinha inexistia.  E sobrevivido a tudo.  Pois se vocês me perguntarem como eu sobrevivi, eu nem sei explicar.   Morei na rua, na zona e a violência sempre foi muito grande. Às vezes eu deito na cama e fico pensando como foi que consegui sobreviver... Envelhecer é muito bom mas você vê muita coisa triste, muitas amigas minhas assinadas por transfobia, mortas por HIV/AIDS.  E são poucas de nós que chegam aos 62 anos, muitas morrem antes dos 35 anos de vida, sou uma pioneira mas esse é o maior desafio, conseguir que mais travestis, trans e homens trans cheguem a essa minha idade, ou passar disso sabe? Lidar com essa violência ainda é um grande desafio.  
Na minha época o maior desafio era a polícia, eu sou da época da ditadura militar e tudo que fazíamos era motivos de ser presos. Nessa época teve situações de sermos pressas durante toda a semana, e não tínhamos como trabalhar.

Campanha ANA:  Envelhecer no Brasil é quase um sinônimo de que não se pode mais nada.  Trabalhar, se divertir, manter relações sexuais e muitas outras atividades. Você concorda com isso?   Ou isso é um preconceito dos mais jovens em relação as idosas e idosos?

Anyky Lima:  Os brasileiros são muitos preconceituosos com tudo, principalmente como os idosos. No nosso país a impressão que tenho é que nós idosos são descartados. Por exemplo na comunidade LGBT’s quando se chega dos 40 aos 45 anos, começam os apelidos (Maricona). E a população mais jovem acha que o idoso não tem direitos... Direito a dançar a se divertir, a ri, a viver e etc...  As gerações mais novas esquecem que essa pessoa idosa, seja qual for sua orientação, traz consigo uma grande carga de conhecimento.  E na comunidade trans isso fica ainda mais complicado, é uma população que vive da beleza, do corpo e quando vai se chegando a uma idade mais avançada, há um destrato muito grande à pessoa idosa.  As travestis jovens acham quem não vão envelhecer. E infelizmente é o que acaba acontecendo elas morrem muito cedo.  Mas acredito que é uma maldade muito grande essa multiplicação dessa não valorização referente aos idosos, independente da orientação.  Essas gerações esquecem amassamos muitos barro para que hoje elas estejam na esquina.  Se não fosse por nós ter aguentando diferentes tipos de humilhação e estigmas na época do surgimento da AIDS por exemplo, alguns direitos conquistados hoje como nome social, acesso à saúde, nos espaços educacionais e o próprio lugar da rua, essa mais novas não poderiam acessar. Se não fosse pelas resistência e enfrentamento das pessoas mais velhas. A beleza é efêmera, se acaba, mas o que fica é o que somos.  Minha velhice é eterna, minha juventude não foi.  Eu sou muito mais feliz hoje aos 62 anos do que aos 18 anos onde eu não sabia se iria amanhecer morta, se iria ser a próxima vítima. E hoje, eu me sinto muito mais feliz por estar passando para elas, algumas coisa boas e também aprendendo por que não sabemos tudo.  Mas essa relação entre as gerações precisam melhora.  No caso das pessoas trans idosas, não existe uma política ainda de amparo a essa pessoas nas suas velhice, por exemplo uma casa de apoio que acolha essa pessoas como elas são. Pois quando precisam elas tem que se refazer em uma identidade que não condiz com aquilo que elas lutaram para ser a vida toda.  Ou então voltam para casa da família de onde foram expulsas com a condição de só serem aceitadas conforme nasceram e muitas são obrigadas a voltar para o armário.  É possível que mais travestis envelheçam, e eu sou a prova viva disso, mas é uma luta constante para continuar se afirmando como pessoas travestis e trans.  Hoje eu consegui juntar meu corpo minha mente e minha alma no que eu sou hoje, uma senhora de idade feliz que está à frente do movimento

Campanha ANA:  Como você acha que as organizações sociais e também as pessoas podem contribuir para que mais pessoas da comunidade LGBTTs, sobretudo o grupo que menor tem expectativa de vida?  O que pode ser feito mudar esse cenário?
Anyky Lima: Acredito que tocar nessa questão da terceira idade, a velhice da pessoa LGBT. Pois quando a pessoa é nova, tudo é festa e fantasia.  É preciso refletir sobre como os jovens. Também é preciso refletir sobre as casa de apoio que hoje geralmente estão ligadas as questões religiosas e sabemos que a população lgbt não é bem vinda na sua forma de ser nesses espaços. Nesse espaço se a pessoa não condiz com seu sexo biológico não são aceita e isso acaba constrangendo fazendo com que essa população se afaste de apoios que são necessários para sua sobreviver com dignidade.  Por exemplo quando pessoas travesti e trans são dependentes químicos, não são aceitos nessas organizações de apoio. Já vi situação de profissionais não atenderem uma travesti alegando que não estava com a roupa adequada. Acredito que o mais importante é o atendimento e não como ela ou ele está vestido.    Isso faz com que as pessoas se sintam um lixo... Penso que precisamos sim pensar nas novinhas que estão na rua, sofrendo sendo assassinadas e dar toda a orientação, mas também é preciso cuidar daquelas que conseguiram sobreviver e as organização tem que ser esse espaço que elas sejam tradadas com dignidade, de uma maneira humana.  E as travestis diferente do que muitos pensam elas sofrem de várias doenças, não só com HIV/AIDS. Tem Pressão alta, Parkinson, doenças da velhice sabe? E na maioria das vezes não são bem tratadas.  E quando as meninas são novas elas geralmente conseguem seus dinheiros, já as com mais idade quando consegue a duras penas ter uma casa e dali tirar seu ganha pão é chamada de cafetina, ou seja volta a ser marginalizada.  Hoje existe algumas organizações de apoio como o Ministério Público as ONGS que tentam de alguma maneira auxiliar todas nós, muitas vezes é demorado por que ainda estamos nesse lugar de marginalizadas. E as organização precisam pensar sobre essa população de Travestis e Trans para que possamos tirar essa comunidade da margem da sociedade.

Campanha ANA:  E para os adolescentes e jovens, sobretudo aqueles que estão descobrindo suas identidades afetivas e sexuais qual a dica o conselho que deixaria? 

Anyky Lima:  O que eu digo para todas (os) adolescentes que é preciso ocupar os espaços de tomada de decisão. Precisam se posicionar para que a gente avance. Mas com muito cuidado e não ser agressivos nessa construção.  Outro ponto importante é dizer da prevenção. Que se previnam, pois não só do HIV/AIDS mas de várias outras doenças. Meu recado é dizer para a pessoas mais jovens que vivam uma vida plena, cuidando do corpo, da alma e ocupando os espaços e se colocando sempre na luta. Curta a vida com sabedoria e não se esqueçam de oportunizar na luta cotidiana caminhos e espaços para mais pessoas travestis e transexuais. Sem "closes", porque nossa luta é por acesso a direitos e deveres para todas.


Leia  o Boletim completo...








quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Defender direitos e reafirmar identidades - Entrevista com Luanna Marley

 Campanha ANA: Quem é a Luana, Quais suas lutas, questões pessoais e profissionais que a constituem? Compartilhar conosco o que desejar. 

Luanna Marley:  Lutas, questões pessoais e profissionais é um tripé que me move cotidianamente. Desde cedo percebia e me tocavam as questões de opressões que vivenciei desde a infância. As situações “camufladas” de racismo na minha infância, como por exemplo eu internalizar que meu cabelo era ruim ao passo que “mangava” das minhas colegas negras até questões relacionadas a minha sexualidade, onde eu me sentia errada e pecadora por querer brincar com “brinquedos de meninos”, ou até mesmo minhas “apaixonites” platônicas pelas minha coleguinhas. Estas duas dimensões que ora me causavam incompreensões, ora indignação marcam a minha trajetória em todas as fases da minha vida. Na adolescência quando me vi como lésbica e assumi isso para mim, especialmente, foi uma questões estruturante que compôs uma batalha interna comigo e os meus desejos, e com a minha família, onde fui compreendendo que na realidade a questão não era EU mas a sociedade que historicamente é cruel, preconceituosa e reforça a dor e o sofrimento daqueles e daquelas que não estão de acordo com os tais “padrões sociais”, ou seja, aqueles/as que não são brancos, heterossexuais, cristãos...e por aí vai, vivenciam situações cotidianas (veladas e explicitas) de violências e opressões. Comigo não foi diferente. Entretanto, existiram dois espaços fundamentais que me acolheram e me fortaleceram: o movimentos LGBT e os movimentos feministas. A articulação entre militância política, academia e experiência profissional sempre compuseram, simultaneamente, a minha formação e atuação nos diversos espaços. Ao passo que havia ingressado na faculdade de Direito, à mesma época me descobri militante do movimento feminista e também no movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), o que contribuiu para traçar um olhar e reflexões críticas sobre o Direito, bem como acerca do sistema de justiça brasileiro. Esta relação colaborou para o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre Direitos Humanos, com ênfase em Gênero, Feminismo, direitos LGBT, movimentos sociais e políticas públicas. Enquanto estava na Universidade pude aliar esta dimensão com a experiência profissional, ao iniciar um trabalho junto à Coordenadoria de Diversidade Sexual e, posteriormente, assumindo a coordenação de Política de Defesa de Direitos Humanos, ambas da Prefeitura de Fortaleza, abrindo assim caminhos para mais um tema que passou a compor minhas reflexões: as políticas públicas. A experiência profissional alinhada à militância contribuíram para que fossem despertados em mim o interesse em compor alguns espaços ligados à Universidade, mas também outros voltados para repensar a academia, sua relação com a sociedade e os movimentos sociais, como o Observatório de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará e o Instituto de Pesquisa Direito e Movimentos Sociais (IPDMS). Pensando a Universidade voltada para a sociedade, cooperei, enquanto Professora-Pesquisadora (2013 -2015) na implementação dos cursos "Educação em Direitos Humanos" e "Gênero e Diversidade na Escola" do Instituo UFC Virtual, Projeto de Extensão da Universidade Federal de Fortaleza em parceria com o Ministério da Educação, que teve como objetivo realizar o aperfeiçoamento acerca destes temas junto aos movimentos sociais e professores da rede pública de ensino. A formação acadêmica, juntamente com a experiência profissional também foram determinantes na minha atuação nos direitos humanos, no pensar criticamente este tema e descobrindo outros paradigmas, paradigmas estes que partem do diversos saberes, em especial o saber popular, e consequentemente, pensando o Direito, a partir do direito achado na rua. Em 2012, torno-me integrante Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares –RENAP. Em 2014, como advogada popular, compus a equipe da Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar da Assembleia Legislativa. O pensar – produzir – atuar na área dos direitos humanos na perspectiva da assessoria jurídica popular, enquanto teoria e prática emancipadora, envolve e completa (mas não se encerra), onde recentemente passei a viver em Brasília para focar também na academia ao ingressar no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania na Universidade de Brasília. A dimensão da atuação política-acadêmica e profissional, se configura como uma parte importante do que eu faço, uma vez que é fundamental trazermos aportes teóricos conectados com os ativismos negro, feminista e LGBT, não só contribuído para uma profunda reflexão sobre a sociedade, mas também para as lutas sociais e populares. Há uma potência nas Universidades públicas enquanto produtora de conhecimento, e a utilização destes conhecimentos como instrumentos de enfrentamento contra as violações de direitos humanos, por isso, também, neste atual cenário, as universidade públicas tem sido alvo de ataques pelo governo golpista.

Campanha ANA: Você faz parte da RENAP, o que faz essa rede e como as pessoas e organizações podem acionar?


Luanna Marley: A Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP, é um rede que articula advogadas e advogados de direitos humanos que atuam para e com os movimentos sociais, grupos e comunidades que vivenciam as violações sistemáticas de direitos humanos. Nossa atuação se baseia no que chamamos de Assessoria Jurídica Popular, que consiste no trabalho desenvolvido por advogadas/os populares, estudantes, educadores/as, militantes dos direitos humanos em geral, entre outros/as. Assim, temos o objetivo de viabilizar um diálogo sobre os principais problemas enfrentados pela população para a realização de direitos fundamentais para uma vida com dignidade
, seja por meio dos mecanismos oficiais, institucionais, jurídicos, extrajurídicos, políticos e da conscientização. É uma prática jurídica insurgente desenvolvida principalmente no Brasil, nas décadas de 1960 até hoje. A RENAP já existe há 22 anos, iniciando na atuação por direito à terra e território, no seio das lutas por reforma agrária e hoje em dia tem ampliado a sua atuação com temas estruturantes como o enfrentamento ao racismo, ao machismo, à LGBTfobia e ao capitalismo. A assessoria jurídica popular pode propiciar uma nova cultura jurídico-social, na qual prevaleça o respeito à diversidade, às identidades, aos contingenciamentos, às necessidades, às limitações e ao desejo por mudança na sociedade. Estamos em vários estados brasileiros, temos uma página oficial https://www.renap.org.br, onde podem entrar contato conosco. No Estado do Ceará, por exemplo, as pessoas podem entrar em contato, seja através do facebook, seja através do e-mail: renapceara@gmail.com

Campanha ANA: O Brasil é signatário da declaração dos Direitos Humanos, nesse sentido o poder judiciário brasileiro considera esses direitos para as causas que juga, ou ainda é preciso lembrar juízes e promotores do que o brasil é signatário?


Luanna Marley: Infelizmente, a todo tempo, precisamos lembrar ao sistema de justiça sobre a declaração dos Direitos Humanos e inclusive sobre a própria Constituição. Enfrentamos ainda, inúmeras decisões, e atuações do Ministério Público, que desconsideram a dignidade humana, os direitos fundamentais, mas não só isso, se utilizam das normas para uma aplicação da lei de acordo com as suas conveniências, interesses e olhares moralistas, conservadores, LGBTfóbicos, machistas e racistas. O que é de extrema gravidade! Não à toa que inúmeras famílias- comunidades, juntamente com crianças, idosos e mulheres grávidas- são removidas e despejadas de suas casas, vivenciando a violência do Estado. Não é à toa que o Brasil está entre os três países que mais encarceram no mundo, onde a maioria é composta por pessoas negras e pobres. As mulheres são severamente e duplamente punidas pela sistema de justiça, quando cometem alguma infração penal ou crime. E quando são vítimas, por exemplo em casos de estupros, também são colocadas como culpadas por terem vivenciado este crime contra a sua dignidade sexual. Posso citar como exemplo, atualmente, pareceres do Ministério Público que são extremamente transfóbicos e que pedem que o juízes neguem o direito de travestis e transexuais terem os nomes pelos quais desejam ser chamadas e de acordo com o gênero que elas e eles se identificam. Ou seja, temos uma coleção de casos em que o próprio sistema de justiça não só não reconhecem os direitos humanos, mas também promovem violações.

Campanha ANA: Você enquanto advogada considera a defesa dos direitos humanos ainda dificultosa no Brasil? E se sim, por que dessa dificuldade?

Luanna Marley: Este ainda é um grande desafio para a nossa atuação, sobretudo, nos últimos dois anos, onde está escancarada por parte destes que estão no poder as tentativas de revogação de direitos
historicamente conquistados pela população. Assim, houve um profundo agravamento das violações
de direitos humanos, promovidas tantos pelas instituições públicas (desde da violência institucional por parte das polícias, situações de torturas até as decisões judiciais) como pela a sociedade que tem atuado não somente nas redes sociais, mas o ódio e as discriminações tomaram também proporções de agressões físicas e extermínio de mulheres, travestis, jovens negros, violência sexual contra crianças e adolescentes, linchamentos, dentre outros. Esta dimensão do ódio é dia a dia alimentada por parlamentares, pela mídia em um jogo onde a “ciência”, “mercado” e a “fé” andam de mãos dadas como força motrizes que alimentam e legitimam as violências. O que é bastante preocupante! Existe um projeto político e econômico de poder que visa a manutenção das explorações e dominações dos corpos e da terra!

Campanha ANA: Por que tantas defensoras e defensores que lutam junto com os trabalhadores, o povo pobre, preto das periferias, com a mulheres e LGBTS, são alvos da repressão e assassinatos?

Luanna Marley: O conhecimento e a emancipação tem na expressão das consciências e nas vozes que denunciam os instrumentos de luta contra aqueles que detém o poder econômico e político à custa do massacre da população negra, pobre, LGBT, das mulheres, jovens, crianças, adolescentes. Por isso que, como temos os argumentos de justiça e as resistências, e SIM, denunciamos, com o objetivo de transformação social, a forma medíocre e violenta para manutenção do poder deles – que querem manter o machismo, o racismo, a LGBTfobia, a propriedade privada e o lucro – é a perseguição, a criminalização dos movimentos sociais e populares, até o assassinato de defensoras e defensores de direitos humanos, afim de calar suas vozes que denunciam...suas lutas. É assim que agem os ruralistas, os senhores do agronegócio, parte do aparato policial, os especuladores imobiliários. Estes anos de 2016 e 2017 bateram recordes de assassinatos de defensores e defensoras de direitos humanos. Assassinatos, torturas e perseguições, como os que tem ocorrido com indígenas, quilombolas, feministas, ativistas pelos direitos de crianças e adolescentes, ativistas LGBT, bem como pesquisadores e pesquisadoras de Universidade Públicas. Aqueles e aquelas defensores e defensoras que perderam suas vidas estão mais presentes do que nunca nas nossas lutas, seja onde for!

Campanha ANA: Como podemos avançar nas lutas sociais sem necessariamente entrar no terreno do judicialização?


Luanna Marley: Na realidade, tenho dito que temos que avançar por caminhos para além das institucionalidades, uma vez que vivemos momentos e contornos políticos que se assemelham a ditadura civil-militar de 1964, não só pelos discursos, mas pelas legislações autoritárias que mascaradas pelas ideologias fascistas, promovem formas políticas e materiais de manutenção do poder que tem como consequência mortes físicas, psicológicas e simbólicas daqueles/as que para eles são corpos inferiores (que não importam). Falo de um projeto neoliberal e conservador! O executivo, legislativo e com o aval do judiciário contribuem e promovem estes contornos. Interessa a eles - falo
“eles” porque sua maioria é de homens a serviço de e para homens brancos, ricos e ‘cristãos’- a manutenção deste sistema político que coloniza, que é racista e machista, que ataca a Democracia, os direitos sociais, como os trabalhistas e, agora, a previdência. Ora, não é á toa que são estes que defendem a escravidão, o recolhimento da mulher ao âmbito privado (política da bela, recatada e do lar), não é à toa que eles (sobretudo, os fundamentalistas religiosos) inventam um termo chamado “ideologia de gênero”, como forma de confundir a população para que não se avancem as discussões de gênero e de diversidade sexual. O que isso quer dizer? É que estes fanáticos, através de mitos e mentiras, tem promovido o ódio as mulheres e LGBT, tentando barrar temas importantes como o combate à violência contra as mulheres e a garantia dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. Por isso que as RUAS ainda são os nossos espaços, é a nossa arena pública e de luta na busca por justiça e igualdade.

Campanha ANA: Há algo mais que que gostaria de colocar?

Luanna Marley: Vamos à LUTA!



Você pode acessar  o boletim completo abaixo. 


domingo, 10 de dezembro de 2017

Entrevista: Resistir e lutar... O bem viver das mulheres é também o bem viver das crianças! Com Lola Aronovich.


Campanha ANA: Lola, nos conte um pouco sobre você, lutas, questões profissionais, enfim o que desejar compartilhar.

Lola Aronovich:
Meu nome é Lola Aronovich, tenho 50 anos, nasci em Buenos Aires, vim para o Brasil com menos de 4 anos, e sou naturalizada brasileira. Morei no Rio, São Paulo, Joinville, um ano em Detroit, e desde 2010 moro em Fortaleza. Do nordeste não quero sair mais. Fiz mestrado e doutorado em Literatura em Língua Inglesa na Universidade Federal de Santa Catarina, e hoje leciono na Universidade Federal do Ceará. Em janeiro de 2008 comecei um blog, o Escreva Lola Escreva, que se tornou um dos maiores blogs feministas do Brasil.

Campanha ANA:  Lola você tem um blog e nele você fala de diversos assuntos. E uma das pautas constantes é sobre a violência contra as mulheres. O seu blog é sua arma contra o feminicídio?

Lola Aronovich: Considero o meu blog, que está prestes a completar dez anos de idade – uma eternidade na internet – um blog pessoal, já que tem até meu nome no título. Mas como sempre fui feminista, desde criança, praticamente tudo que falo e escrevo tem este viés feminista. Portanto, imediatamente o meu blog foi definido como feminista. Lá eu falo de inúmeros assuntos, mas um dos mais frequentes é realmente o combate à violência contra a mulher. O feminicídio é um tema muito sério, que uma parte da mídia ainda comete o equívoco de chamar de “crime passional”. Os dados da ONU são alarmantes: 38% de todas as mulheres mortas no planeta são assassinadas pelo marido,
namorado ou ex-parceiro. Todos nós devemos lutar contra essa epidemia que ocorre em todos os lugares do mundo, não apenas nos países pobres.

Campanha ANA: Ao final deste mês começa mais uma edição dos 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero, mais precisamente o 25 de novembro que marca dia Internacional de Não Violência contra as Mulheres. Qual a importância você vê nesse momento, tanto na data quando nos dias de ativismo?

Lola Aronovich: É uma data muito importante, realizada no mundo desde 1991 e, no Brasil, desde 2003. A campanha internacional tem início no dia 25 de novembro -- data que marca o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres -- e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. É uma das datas mais importantes para os movimentos feministas, assim como o 8 de março (Dia Internacional da Mulher) e o dia 28 de setembro (Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto). São datas em que avaliamos conquistas e avanços, denunciamos retrocessos, e tentamos conscientizar a sociedade da necessidade de mudanças.

Campanha ANA: Você vê algum progresso que minimiza as relações dos sistemas de opressão das mulheres? É possível falar em avanços nos dias de hoje?

Lola Aronovich: Sem dúvida há muitos avanços. O feminismo é forte hoje. Em toda universidade, inclusive as particulares, tidas como mais conservadoras, há no mínimo um coletivo feminista, um coletivo LGBT, um coletivo do movimento negro. E, cada vez mais, alunas criam coletivos em suas escolas. Os conservadores ficam desesperados ao ver meninas de 11, 12 anos tão cheias de iniciativa e com tanta vontade de lutar. O feminismo é tão forte que nós ativistas somos atacadas diariamente. Estamos vivendo tempos sombrios, em que um governo que não foi eleito nas urnas (e, com essa agenda, nunca seria eleito) aproveita o Congresso mais reacionário dos últimos 50 anos para aprovar várias leis que tiram direitos de trabalhadoras e trabalhadores. O fim da Previdência, o fim dos direitos trabalhistas, a falência programada do SUS, o desmantelamento das instituições de educação públicas, são péssimos para todos os brasileiros, mas pior para as mulheres e negros. E os deputados fundamentalistas cristãos estão empenhados em proibir o aborto no Brasil em todos os casos. Imagina uma mulher ou menina ser estuprada e engravidar e ser forçada a parir o filho do estuprador. Ou uma mulher que corre risco de vida ao prosseguir com a gravidez ser obrigada a prosseguir, já que, para os
conservadores, um feto é muito mais importante que uma mulher adulta. É este o pesadelo que estamos vivendo.

Campanha ANA: Diante de todo esse cenário de violência que vivemos, o que podemos fazer ou mesmo enfatizar enquanto indivíduos e instituições para enfrentar mazelas?

Lola Aronovich: Acho que todas as transformações passam pela educação. Não só educação nas escolas e universidades, mas através da mídia, no dia a dia. O mundo é dos jovens. Todo jovem tem que ser idealista, tem que acreditar que tem poder pra mudar.

Campanha ANA: Qual a melhor maneira de uma mulher agir em relação a violências, sejam domésticas, sexuais e ou no campo profissional?

Lola Aronovich: O importante é não se calar. Denunciar a violência nem sempre funciona, mas é necessário. Também é fundamental se unir a outras mulheres, exercer sua sororidade. Uma mulher
pode aprender muito da experiência de outras mulheres.

Campanha ANA:  Em um dos seus posts no blog, você cita a experiência de Nairóbi, no Quênia, onde os meninos são ensinados a respeitar as meninas. Você acredita que essa também possa ser uma aposta brasileira para diminuir a violência de gênero?

Lola Aronovich: Sem dúvida. Esta é uma proposta nossa faz tempo: que questões de gênero sejam discutidas em sala de aula. Aliás, isso está nas diretrizes nacionais muito antes dos reacionários começarem com o fantasma que eles inventaram de “ideologia de gênero”. Não tem como melhorar a sociedade sem melhorar a vida das mulheres nesta sociedade. Quando se melhora a vida das mulheres, melhora-se também a vida das crianças.

Campanha ANA:  Como as organizações que atendem crianças e adolescentes podem contribuir no seu cotidiano contra as violências cometidas às mulheres?

Lola Aronovich: Em primeiro lugar, ouvindo e acreditando nas mulheres. Já existem muitas organizações que fazem isso, e evidentemente devem continuar o bom trabalho. Mas cada um de nós
pode fazer a sua parte, se posicionando todos os dias contra o machismo, o racismo, a homofobia e tantos outros preconceitos.

Campanha ANA:  Por fim, há alguma questão que gostaria de acrescentar?

Lola Aronovich: A internet é uma ferramenta poderosa para todos nós. Em vez de espalhar ódio, como tantos fazem, vamos divulgar conteúdo de quem luta para mudar o mundo. E vamos criar o nosso próprio conteúdo. Sem temer.

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