terça-feira, 2 de maio de 2017

Entrevista: Por uma educação que contemplem as Diversidades


Nesse mês de Abril  Campanha ANA entrevistou Toni Reis.  Com 52 anos ele vivi na região sul do país  com seu companheiro David, são casados há 27 anos. Com eles,  vivem também seus 2 filhos 16 e 11 anos  e sua filha com 14 anos de idade. Toni como Carinhosamente  é chamado por amigos de profissão e  militância, é  professor por profissão, formado em letras e pedagogia, especialista em sexualidade humana e dinâmica dos grupos, mestre em filosofia e doutor e pós-doutor em educação, com ênfase em questões LGBTI na educação. Militante no movimento LGBTI desde meados dos anos 1980. Foi  ele um dos fundadores do Grupo Dignidade em 1992 e foi também o primeiro presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, quando fundada em 1995. Foi presidente por mais dois mandatos e atualmente é Secretário de Educação. Também é presidente da Aliança Nacional LGBTI e  membro titular do Fórum Nacional de Educação, na área de diversidade.
foi entre uma atividade e outra que Toni gentilmente nos cedeu essa entrevista,  com um tom mais de conversa.  Pois para muitxs de nós é  um tanto necessário refletir sobre  uma educação que contemplem as diversidades

Campanha Ana: Toni, como foi que você começou sua militância pelas questões LGBT? Qual foi o fato que te deu o clique?

Toni Reis: Nasci e me criei no interior do estado do Paraná. Eu sofri muito dos 14 aos 21 anos. Tive homofobia internalizada muito grande, pela pressão da minha família, da minha religião, na minha escola, também pela minha ignorância. Eu mesmo procurei ajuda da família, procurei várias de forma me “curar” (medicina, religião, simpatias e tudo mais).
Tive a possibilidade de vir morar em Curitiba. Me formei em Letras pela Universidade Federal do Paraná, participei do movimento estudantil, de partido político. Tive contato com militantes LGBTI desde 1984 com o Prof. Dr. Luiz Mott e o Dr. João Antonio Mascarenhas, entre outros, que me ensinaram muito.
Tive a possibilidade de morar na Europa entre 1989 e 1991. Conheci o movimento LGBTI de lá, que na época estava bem mais avançado que o brasileiro. Com as leituras e vivências fora da minha cultura me despertei para minha autonomia e para minha cidadania e criei a consciência de quem não
Toni em Família 
luta por direitos não os terá, infelizmente. Assim que voltei da Europa, fundamos o Grupo Dignidade. O “clique” foi o sofrimento na adolescência e o desejo de lutar para que outras pessoas não passassem pelo que eu passei. Eu tenho um forte senso de indignação diante de injustiças e discriminações e isso me impulsiona na minha militância.

Campanha Ana:  A Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil realizada em 2015 e divulgada no ano passado, revelou que o ambiente escolar não e nada seguro para aqueles que não estão na lógica heteronormativa. Quais são os riscos e vulnerabilidade que adolescentes lgbt sofrem no ambiente escola?

Toni Reis: Os principais achados da pesquisa foram que 73% dos/das estudantes LGBTI brasileiros/as sofrem bullying LGBTIfóbico nas escolas, 60% se sentem inseguros/as na sala de aula e 37% já sofreram violência física nas escolas. A pesquisa ficou muito rica porque foi autorrespondida (os/as respondentes não foram entrevistados/as, o que diminuiu a inibição de se expressar) e também pela possibilidade de responder livremente uma pergunta aberta sobre as experiências no ambiente escolar enquanto estudantes LGBTI. Foram diversos os relatos de faltar à escola por não aguentar mais ser objeto de chacota. A pesquisa mostrou o quanto a insegurança e o isolamento de estudantes LGBTI na escola afeta negativamente o rendimento acadêmico. Houve fortes relatos de humilhação das pessoas trans e também foi expressado várias vezes o estado de depressão e o desejo de suicídio.http://www.grupodignidade.org.br/projetos/acao-na-educacao/

Campanha Ana: Na sua avaliação, quais são as medidas necessárias para tornar a convivência mais harmônica, e permanecia dos adolescentes lgbts, já que muitos deles em função dessa violências acabam por abandonar a escola?

Toni Reis: Primeiro, temos que ter políticas públicas, tanto no âmbito da legislação, quanto nas práticas pedagógicas, para o respeito à diversidade sexual, de preferência na área da educação em direitos humanos. Segundo, o respeito à diversidade sexual deve constar especificamente nos marcos normativos, com a BNCC, e sobretudo nos regimentos escolares. Recentemente o Estado do Paraná deu um belo exemplo de respeito à orientação sexual e à identidade de gênero, recomendando que os regimentos de cada Escola/ Colégio contemplem a Diversidade Sexual, no documento da Secretaria de Educação intitulado “Fundamentação legal para a elaboração do regimento escolar da educação básica” http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/Manuais/manual_regimento2017.pdf

Campanha Ana: Na versão final do documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) divulgada no início do mês de Abril, foram retirados trechos que diziam especificamente que os estudantes teriam que respeitar a orientação sexual dos demais alunos e a palavra "gênero" também foi suprimida de alguns trechos. Você acredita que essas mudanças reforça o caminho da não diversidade na escola? E Quais outras lacunas essas mudanças abrem na educação brasileira?

Toni Reis: Precisamos participar das cinco audiências públicas regionais sobre a BNCC, a serem realizadas entre junho e setembro deste ano  ( clique  aqui para ver  o calendário das audiências)  
Vários/as integrantes do Conselho Nacional de Educação estão sensibilizados/as sobre a importância da referência específica à orientação sexual e identidade de gênero na BNCC e precisamos unir todos os esforços com todas as parcerias possíveis para que esses temas sejam incluídos novamente na Base.

Campanha Ana: Em relação a essa educação que não leva em conta as questões de gênero e orientação sexual, você acredita que a não reflexão sobre pode abrir margem para que ocorra violência sexual a adolescente LGBTI?

Toni Reis: Sim, com certeza. Temos que rememorar a Constituição Federal, artigos 205 e 206 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, quando estabelecem três 3 grandes pilares da educação: desenvolvimento humano, educação para a cidadania e educação para trabalho. Os dois primeiros pilares ficam prejudicados se a educação não trabalhar a questão do respeito às subjetividades dos/das
estudantes.

Campanha Ana: Quais desafios ou tarefas o movimento que luta por direitos de crianças e adolescentes tem diante dessas mudanças nos Parâmetros Curriculares Nacional?

Toni Reis: A BNCC vem substituir os PNCs. Primeiro os movimentos devem participar e incidir politicamente no Executivo e no Legislativo, convencer o Conselho Nacional de Educação a incluir orientação sexual e identidade de gênero novamente na BNCC, denunciar toda e qualquer forma de discriminação, participar das etapas municipal, estadual e nacional das Conferências de Educação. Os currículos dos cursos de formação inicial de professores/as (graduação) precisam ter conteúdos específicos sobre o respeito à diversidade sexual, com formação continuada para profissionais de educação, para que estejam preparados/as para acolher efetivamente os/as estudantes LGBTI e agir diante dos problemas que surgem nas escolas.
Materiais pedagógicos baseados em evidências (para professores/as e estudantes) precisam ser elaborados, disponibilizados e utilizados nas escolas para promover o respeito a todos e a todas, sem distinção de qualquer característica pessoal. Isto deve ocorrer de forma transversal, com base na educação em direitos humanos. Além disso, deve haver supervisão regular das práticas de ensino para garantir que os conteúdos curriculares sobre a promoção do respeito à diversidade sexual sejam implementados efetivamente.
Por último, porém não menos importante, uma campanha precisa ser veiculada nos meios de comunicação para sensibilizar sobre os efeitos da discriminação e do bullying contra estudantes LGBTI.

Conheça as atividades do projeto It Gets Better Brasi lhttps://www.facebook.com/itgetsbetterbrasil/ 


Leia também o Boletim da Campanha  ANA


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