Para refletirmos sobre o orgulho e as questões que envolvem
as pessoas LGBTI conversamos com
Priscila Tomas. Mineira de Belo Horizonte com seus 26 aninhos, ela desde de sua
adolescência vem militando pelos direitos humanos. Contundente e carismática,
Priscila é formada em pedagogia, atua como educadora social e carrega consigo
muitos adjetivos: É Mulher, Jovem, Negra,
Periférica, Lésbica, Atriz e se reconhece como muito mais que isso. Veja abaixo nossa conversa.
Campanha ANA: Priscila,
você é uma militante aguerrida. Desde quando as pautas em que você atua seja
como militante ou profissional se tornou uma vivência efetiva na sua
trajetória? E o que te motivou a
levantar essas bandeiras?
Priscila Tomas: Aos
14 anos de idade, após participar de vários processos de discussão e formação
nos movimentos sociais e organizações, comecei a me identificar como sujeito de
direitos e deves. Desde desta época atuo
na militância contra a violência sexual contra crianças e adolescentes. E atuar
e defender os Direitos Humanos pelos vários espaços que participo e relações que
vou tecendo seja elas de relações afetivas com amigos, família, comunidade ou nas
relações profissionais e no próprio movimento vejo que essa militância não se
separa, faz parte de mim. É por isso
que por onde vou carrego essas bandeiras não só pelo enfrentamento a violência
sexual, como também contra o genocídio da juventude negra, o machismo e a
lgbtfobia. Até por que me reconheço em
várias destas lutas e por isso afirmo todas as questões que me fazem ser quem
eu sou como me descrevi na pergunta
anterior.
Campanha ANA: Na
sua concepção há motivos para se orgulhar de identidades lgbts no Brasil? Quais
fatores facilitam e quais dificultam?
Priscila Tomas: No
nosso país, temos tido muita dificuldades de se orgulhar, várias pesquisa mostram
como pessoas LGBTI sofrem vários tipos de violências física, psicológicas ou
são assassinadas por demostrarem seu amor. Contudo acredito que por mais
difícil que seja, é possível se
conseguido, claro que ainda há muitas lutas para que termos acessos que ainda são privilégios das pessoas heterossexuais. E o movimento como qualquer outro de defesa dos direitos enfrentam muitas questões, mas tem se fortalecido a cada ano, e isso ajuda a crescer e a criar uma cultura de respeito e também de orgulho. As dificuldades para se orgulhar é sistêmica, tem haver com a educação moralista que recebemos desde muito cedo... Que tem seus pilares no patriarcado e na heteronormatividade que há anos vem alimentando as desigualdades e os padrões sociais.
Campanha ANA: No
Brasil segundo levantamento do Movimento Gay da Bahia é um pais onde mais se
mata pessoas lgbt. O que está por de
trás de tanta lgbtfobia?
Priscila Tomas: A
nossa sociedade não foi educada a conviver com a homossexualidade dentro da sua
amplitude. Perpetuamos em nossas crianças que existem apenas homens e mulheres,
ou seja, tudo o que for contrário a isso é anormal. E isso cria um cenário de
permissividades. É aí nesse cenário onde
a LGBTFOBIA encontra um terreno fértil, afinal somos Educados a rejeitar e a
eliminar tudo que consideramos anormal é isso que está por trás de todos os
assassinados das pessoas LGBT. Falta amor,
falta respeito, falta reconhecer que somos diversos na nossa forma de
existir.
Campanha ANA: Na sua concepção, onde devem ser feitas
intervenções para erradicar a lgbtfobia?
Priscila Tomas:
São muitos os lugares onde deve ser feito as intervenções, na educação seja ela
na escola, seja ela dentro das várias configurações familiares; Nas religiões sobretudo a
católica e protestante que pregam um modo
de se relacionar e de amar
heteronormativo; nas corporações
policias, nos docentes, enfim são
muitos lugares que
precisam parar de enxergar as pessoas LGBTIs como minorias e começar a
vê-las como uma grande massa que atua, consome, pensa, trabalha e que não é
diferente de nenhum outro cidadão.
Campanha ANA: Você
acha que crianças e adolescentes tem tido o direito de exercer orgulhosamente
suas identidades sexuais e de gênero nas organizações que atendem a crianças e
adolescentes? Por que isso acontece?
Priscila Tomas: Penso
que nem tanto. A grade maioria das organizações
sociais que atendem as crianças e adolescentes, tratam tudo num balaio só. Ou seja, tratam todas as questões que
envolvem a sexualidade vinculadas a
identidade de gênero. Os processos formativos que muitas adotam no seus
atendimento acabam que reforça a educação para meninas e para meninos,
reforçando assim uma cultura de preconceito e
discriminação. Poucas organizações estão
de fato preocupadas ou preparadas para mudar esse paradigma. E isso acontece porque muitas vezes as
questões relacionadas ao desenvolvimento da sexualidade, é tratada como tabu e
qualquer criança ou adolescente que apresenta um comportamento diferente do que
se espera dela, é vista como algo errado.
E algumas organizações superprotegem meninas e meninos que tem
comportamentos que não são heterossexuais, reforçando nas entre linhas que como
esse comportamento é diferente da norma, está sujeito a violências das outras e
dos outros colegas, e acabam que não discute ou empodera essas crianças e
adolescentes para se sentirem orgulhosas para ser e se comporta da forma que se
sentem bem. E quando essa discussão é
cerceada, de alguma forma pode afetar radicalmente a forma com que as nossas
crianças e adolescentes enxergarão o mundo no presente e no futuro e as pessoas
que nele vivem.
Campanha ANA: Como
podemos avançar para um maior reconhecimento das identidades lgbts na
instituições brasileiras?
Priscila Tomas: Avanços serão dados quando de fato a
discussão sincera sobre sexualidade, identidades e LGTFOBIA for matéria
obrigatória nos currículos escolares. Acredito que a educação é um caminho seja
elas nas instituições formais, seja em outros processos educacionais. Outro
caminho é que as pessoas LGBTIs sejam fortalecidas para assumir suas
identidades sexuais e de gênero nos ambientes que frequentam. A indignação
também é um outro caminho, pois é preciso que as pessoas de diferentes gerações,
orientações sexuais e religiosidades sintam-se indignadas quando ocorrer uma
violência contra pessoas LGBTIs seja qual for a forma. Aí sim penso que
estaremos avançado.
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